em canto

Dizem que a menina dança num canto
Menina dessas de brisa leve, menina
Mas eu nunca vi menina dançar em cantos
Sempre que as vejo, estão a girar em volta dos mastros guias
Induzias, inquietamente falsas

Por isso sempre achei que não dançavam encantadas

Só uma. Aquela dos livros lidos

Aquela que quase não se via no salão. Por estar entretida demais com qualquer coisa que ninguém, a não ser ela, poderia ver
No entanto, nunca deixei de reparar no seu dançar discreto, flertando som com letra
Degustava palavras nas festas mais pomposas e se satisfazia apenas com elas
Enquanto as outras dançavam hierarquicamente em volta das hastes
Ela sempre fica no canto, essa menina dos lidos livros
Em cantando sua dança

Co(e/r)rente

Antes poderia ser tudo! Mas não agora.

Desculpe, mas não vou ficar ligando, correndo atrás de notícias suas ou de mim.
Não vou me preocupar com a distância entre nós , deixo apenas o acaso e o fluxo nos juntar de forma letárgica e rotineira.

Antes poderia ser. Mas não agora... Perdi isso em algum lugar... (me perdi?)

Isso de se preocupar com ela, de querer contar alguma coisa triste ou boba que aconteceu no dia, de pensar nela e esboçar um sorriso de canto de boca. Aquele calor que toma conta do corpo quando tomamos consciência de que mais tarde nos encontraremos... E aquele momento esquisito quando nos vemos à distância e queremos pular a etapa de nos aproximar e já irmos pro entrelaçar dos abraços e beijos. O suspiro longo, satisfeito e sonhador de acordar ao lado dela e observá-la dormindo e provar um pouco da paz do seu sono.Aquela ansiedade sufocante quando ela diz que precisa falar alguma coisa pessoalmente. A confusão e o medo que se instauram de uma hora pra outra na alma quando ela diz estar 'confusa' em relação a alguma coisa... Quando ela chora mas não diz o motivo, talvez pra não te machucar mais...

Ai, amar e sofrer por amor era tão gostoso... Mas já nem me lembro mais como era ser assim. Sei que era bom, mas não me remete a sensação... É incoerente, eu sei, dizer isso tudo e não lembrar mais da sensação... Mas simplesmente é o que ocorre, e não me pergunte como, pois também não entendo como isso funciona.

O tempo passou a ser uma bênção e um martírio ao mesmo tempo. Não tenho mais pressa, mas ao mesmo tempo as circunstâncias não me afligem mais. Por isso flutuo... em mim, em nós, em nada. e quando sinto o chão sinto meu corpo calejado e abro os olhos pra morte presente. É quando eu choro.

"Vou ficar aqui, um pouco quieta e um pouco morta..."

Dias, semanas, meses passam e eu mal os vejo. Reparo em cada instante perdido em mim. No fundo daquilo que estou limitada a ser.Gostaria de ser sempre mais, pra você e pra mim. Nessas horas o pensamento é válido... Mas nem tudo em que se pensa faz total sentido, mas algum significado é proposto naturalmente por qualquer um, exceto por mim. Nada mais faz sentido quando penso. Em amar, em me perder, em encontrar cada pedaço meu nas coisas, no espaço... até no vazio... Não enxergo nada direito ou diretamente... Me preocupo demais com os outros, mas não faço muito por eles. Só me preocupo - e de que vale isso?


Falta um pedaço em mim. E o descubro todas as vezes em que te encontro e te abraço, que te sinto. Essa peça ausente vai e volta constantemente. Eu queria estabilidade, sim. Mas como o mundo é o "devir", o "vir a ser"... me contento com as mudanças. Só não quero mudar esse amor de lugar.

Me sinto ao seu lado.
Como passo por ti
Sempre que penso,
Penso que o passo
Mais próximo do amor
É aqui.

Trajetória

Não me contento com o tanto que eu tento.

Tanto que contrario as tentações que me tiram a atenção do que me importo.

Portanto, contemplo inerte o tempo a traçar-me  as histórias de outrora.

Todavia, testo toda tolerancia disponivel de tal  forma a atentar contra minha integridade, me traindo e me atirando aos pés da morte

Contudo, a travessia sobre a turbidez momentânea traz, de forma travessa e atrasada, o triunfo terminal do trabalho.

Somente num turbilhão de tremores internos, tresspasso a falta da vontade e a inconstância dos temores das trevas atravessam a estrada obstruida, mostrando a tradução do que antes era incontestável

Subo, então, o mastro e hastio a bandeira

Transcendo através do éter.
Piso na estrada.

O falso desespero grita
A dor de ser falso,
O medo do próximo passo,
Deixa a vida aflita.

Chega a todo vapor
A esperança
Me mostrando o valor
De ser, e só, ser só.

Infantil

Não, eu não sou criança, senhor
sou só o adulto que você quis ser.

Não, eu não estou inspirado.

Estou cru, portanto.

Ando assim: cansado demais pra pensar em alguma coisa decente, digna de ser dita... Algo que tenha significado. Um simbolismo concreto...

Pois tenho respirado minhas mentiras e enterrado as verdadeiras verdades.

Mas escrever é somente uma perspetiva (assim como a felicidade), mas mais que isso: 

    escrever é uma questão de fé.

    'Quem com ferro escreve, com ferro será escrito'

        -confere.